Quão seguro é ter uma conta bancária ou de investimento nos EUA?

Antes de começar a investir em um país estrangeiro e usar o sistema financeiro desse país, é saudável se perguntar quais são as garantias e seguros do sistema financeiro com o qual vamos trabalhar. Todos nos lembramos ou já ouvimos falar das grandes crises sistêmicas financeiras na América Latina, como o «Brasil Novo» de 1990 com o presidente Collor e «El corralito» da Argentina em 2001, e também a grande crise bancária de 2008 nos EUA, onde o gigante Lehman Brothers faliu. Atualmente, assistimos à falência do Silicon Valley Bank nos EUA e do gigante Credit Suisse da Suíça. A regulamentação e as garantias do sistema bancário e dos custodiantes são fundamentais para nós porque são os veículos necessários para realizar nossos investimentos em nossos planos financeiros. Hoje vamos analisar os seguros e garantias que temos no sistema americano em comparação com outros lugares da América Latina.

Proteção da poupança no Uruguai

No Uruguai, temos a COPAB (Corporación de Protección del Ahorro Bancario) que garante depósitos em cada instituição de intermediação financeira até o equivalente a USD 10.000 por pessoa física ou jurídica para depósitos em moeda estrangeira, e até o equivalente a UI 250.000 (aproximadamente USD 35.000 em março de 2023) para depósitos em moeda nacional.[1]

Proteção da poupança no Brasil

No Brasil, existe o seguro FGC (Fundo Garantidor de Créditos) que protege poupadores de até R$ 250.000 (aproximadamente US$ 48.000) por instituição financeira com teto de R$ 1.000.000 (aproximadamente USD 192.000) a cada 4 anos por pessoa física ou jurídica . Este seguro inclui os seguintes bens: contas correntes, contas de poupança, letras de câmbio, CDB, LCA e LCI. Não há garantias para contas em USD, além do fato de que as contas em USD no país estão limitadas a apenas alguns agentes em particular.[2]

Proteção de poupança e investimentos nos EUA

Nos Estados Unidos, temos dois seguros diferentes, o FDIC e o SIPC. Cada um responde a diferentes situações. A FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation) é uma agência federal americana independente criada em 1933 após a grande crise bancária de 1929. Seu objetivo é proteger os poupadores do sistema financeiro quando um banco apresenta problemas de liquidez ou solvência. Basicamente, o FDIC garante poupanças e contas correntes de pessoas físicas ou jurídicas em bancos por até US$ 250.000 por titular. O SIPC (Securities Investor Protection Corporation), por sua vez, criado em 1970, foi criado para proteger os investidores com contas de investimento em corretoras. O seguro garante até USD 500.000 por conta por instituição e inclui instrumentos financeiros e dinheiro em conta.[3]

Portanto, podemos concluir que o seguro do sistema financeiro para poupadores e investidores nos Estados Unidos supera em muito o oferecido nos sistemas uruguaio e brasileiro.

Um detalhe importante a ter em conta é não confundir perdas momentâneas de valor em investimentos devido ao comportamento dos ativos financeiros com perdas de capital por problemas com um custodiante ou um banco. Os seguros anteriormente analisados ​​aplicam-se apenas a este último caso.

Silicon Valley Bank e seguros na prática

Agora vamos ver o caso recente do Silicon Valley Bank e todas as referências que foram dadas nas últimas semanas. Vejamos na prática como foram executadas as garantias e seguros analisados ​​anteriormente.

A primeira ação tomada pelo FDIC quando os problemas financeiros do banco vieram à tona foi criar um «banco-ponte» para substituir o banco problemático, chamado «Silicon Valley Bridge Bank». Com isso, foi possível manter o funcionamento normal do banco e dos serviços oferecidos aos clientes até que uma solução definitiva para a questão fosse encontrada. Desta forma, nenhum cliente bancário perdeu dinheiro, desde que coberto pelas regras do seguro e, adicionalmente, todas as operações de depósito e levantamento continuam a funcionar, transmitindo tranquilidade a todo o sistema.

Além disso, como o SVB possuía depósitos não segurados (acima de USD 250.000) que eram muito importantes para a operação de muitas empresas de tecnologia nascentes, o FDIC juntamente com o governo americano decidiu estender o seguro de depósito para incluir saldos acima do limite. Isso gera grande confiança em todos os usuários do sistema financeiro, mas tem como contrapartida a geração de “risco moral” no sistema, ou seja, um incentivo à assunção de riscos excessivos por parte das instituições financeiras já que, em última instancia, o governo aparece para salvar os bancos. Pessoalmente, acredito que, se o credor de última hora aplicar com discrição sensata e avaliar caso a caso, o risco moral não será gerado. Este desequilíbrio no SVB foi causado pela rápida subida das taxas que expôs a imprudência na gestão da duração dos ativos do banco, pelo que faz sentido que os poupadores e as empresas não sejam prejudicados por esta situação gerada por uma gestão gananciosa da posição financeira que não foi alcançado pelo regulador. Ao contrário de 2008, uma crise em que os grandes bancos americanos foram resgatados, entendo que nesta situação eles querem salvar os depósitos dos poupadores e não o banco, que fala de um sistema mais maduro e regulamentado. Esse novo mundo de taxas livres de risco mais altas me parece muito mais justo porque levará a uma maior prudência na tomada de empréstimos (o custo do dinheiro é mais alto) e diminuirá a criação de bolhas especulativas devido ao excesso de dinheiro barato.

Ec. Juan Martín Rodríguez

[1] https://www.copab.org.uy/innovaportal/v/308/1/web/cobertura.html

[2] https://www.fgc.org.br/

[3] https://www.sipc.org/for-investors/what-sipc-protects, https://www.fdic.gov/